quarta-feira, 3 de junho de 2009

Desníveis emoldurados




Num abrir de janelas: o que dizer da delicadeza esfiapada de uma nuvem? Há um dizer nisto? Como anunciar a sua correnteza e o meu deslocamento nela?

Certas nesgas equivalem a tablados abertos, em que nos utilizamos para colocar algo e confraternizarmos nosso silêncio; outras lembram tranças de um velho ranzinza ou talvez as tranças de uma mesa cabeluda. Qual a minha distância neste segundo?

Depois, o desmembramento plástico do que aparenta fixo, apenas para não estar mais ao longo das coisas. É o vento que te carrega, bem sei.

A exposição de seu dorso à luz não é gratuita. Sua pele faz-se dourada pelas bordas, desnivelando trechos por irradiação. Nos segmentos mais desavisados, o conjunto granula-se, como um espelho multifacetado e em cacos. Teu realce desalça o meu alçar à brancura travestida de minhas impossíveis cores e logo fico sem mim. Sua artimanha grega derruba qualquer muro, mesmo sendo azul como o infinito que nele é. Quando tingida, seus átomos revelam o espaço das transparências. Faz-se o traço, o enlaço de uma fita desprende-se. Por cima, diversas cristas de ondas imiscuídas em céus breves e 'aeroplasmáticos'.

E eis que se apresenta a única coisa diária e absoluta. Sob nossas cabeças, silhuetas de ângulos imprecisos e abaulados.

Ora transmutando.

Ora transmudando.

Assim, sucessivamente, isto vai se interpondo nos meus olhos sua projeção mais cínica.
Brinca imitando um Vermeer;outras, os cubistas.
É, a arte é feita de papel céu e argamassa. Sempre soube - com exceção de que nas altitudes, ela realiza-se inchando pelo meio, enquanto nós testemunhamos apenas suas travessias.

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