sábado, 25 de maio de 2013

Labo 2: Peças do calabouço





[leitura performática sobre diversos poemas e versos recortados de Guenádi Aigui, traduzidos por Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos e Jerusa Pires Ferreira]

[Recomenda-se para melhor aproveitamento usar fones de ouvido]

Fundo musical: Trilha sonora para o filme "Antonio Gaudi" (1984) de Hiroshi Teshigahara, composta por Toru Takemitsu.


"e eu mesmo - farfalho:

e por que
não seria?

o murmúrio das bétulas:

no mundo todos farfalhamos...

e por que
não seria?

...nem chega a doer!
"morreu." -

solitárias e vazias - se dissiparão em cinzas...

como se fosse pra sempre... -
como sobre isto - o ruído
(como que abandonado - o ruído do outono)

coração
ou apenas ausência
uma vacânsia tensa - como quando arrefece

de repente:

(um comprido "algo" muito "de repente") -
jardim - tal qual visão: - brilhando em quartzo.

faíscas - deste jardim contra as janelas - mais brumosas
quente  nas profundidades

na ruela, clara, - a carroça
mais alto - nada além do vento onde estão os pássaros
e as bandeiras. -

jóia dos caminhos -

como se tivéssemos visto Deus em sonho - e isto vem à
memória
recompondo-se numa visão esquecida
(desagregando-se ou recomeçando)

da nave nas antigas colinas e estradas
de falas-vestes da infância
do rosto - dos animais de sorriso e choro -ao lado o
umbral dos amigos:
vocês - meus queridos: ó pintura, vida
IMediato - inexprimível
(belo como uma refeição de pobres)

e as almas que nem velas se acendem uma a outra
e as almas que nem velas se acendem uma a outra

e se introduz o soar solene do outono: o fulgir de órgão -
dos girassóis

um cão através dos centeios
corre
como entre os gritos
de toda - repentina - infância
em meio
ao sol que declina

e ali
se dizem adeus os caminhos - os caminhos se dizem
adeus:
eles se projetam - encontrando-se


Sempre mais longe entre as neves

E o rio contorna
dos povoados em sombra na distância -

mais nítido que o coração de qualquer árvore única

a terra é toda feita desse campo; o farfalhar do papel

E de novo
há de Ressuscitar.

Ruído
(como que abandonado - o ruído do outono)

para toda a minha vida

e ele olha através da canção
afagando a cabeça da criança.

As notícias farfalham nas matas.
O rouxinol, - constrói música (e não "canta").

Simplesmente luz: Indigência - e Pureza.
O fulgir do crepúsculo dos pinheiros no sonho.
A pobreza, - um cinzelador.

Um pinheiro.
O campo
O Sol no horizonte.

Novamente nuvens que lembram algo.
Campo e pedra.
O calar-se.
A dor.
Aos arrancos a incipiente dor
Às vezes possivelmente dói - à criança
frágil desnudo-viva
qual impotência de pássaro,

se o "não" ficou claro.

a noite cai... -
cai...

tão escondida como um coração"

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